Muitos acreditam que o constelador é alguém que “faz” a constelação. Mas essa é uma ilusão.
Na verdade, o constelador não manipula, não cria, não controla. Ele se coloca em um lugar de presença, onde sua principal função é dar passagem ao que o campo quer mostrar.
O constelador não é um diretor de teatro que distribui papéis ou decide as falas; é mais um guardião da cena, alguém que abre espaço para que a verdade do sistema se manifeste. Essa posição exige mais coragem do que se imagina, porque não se trata de agir, mas de sustentar, sem pressa, sem vaidade, sem protagonismo.
No Terapia Inteligente, preferimos usar a palavra facilitador de constelação familiar. Porque a tarefa não é “constelar alguém”, mas facilitar que o campo se mostre. O facilitador é aquele que acompanha, serve de canal, sustenta o processo e devolve dignidade ao cliente para que ele próprio reconheça sua imagem sistêmica.
Isso exige uma qualidade rara em tempos de pressa: silêncio interno. O constelador precisa se esvaziar das próprias histórias, crenças e julgamentos para estar a serviço do cliente, não das suas opiniões pessoais. Essa é a chamada postura fenomenológica: olhar o que aparece sem tentar manipular, sem forçar interpretações, sem se colocar como salvador.
É aqui que mora a ética mais profunda da constelação: respeitar a ordem que se revela, mesmo quando ela é desconfortável ou contrária ao que se gostaria de ver. O verdadeiro trabalho sistêmico não busca agradar, mas mostrar. Não procura consolar, mas ordenar.
Por isso, a formação de um constelador (facilitador) não pode se resumir a técnicas superficiais ou frases de efeito. É preciso preparo teórico, treino prático e, sobretudo, maturidade interna para não confundir o próprio campo com o do cliente. Só assim é possível sustentar, com corpo e alma, o peso das histórias que emergem.
Ser constelador não é apenas uma profissão. É um chamado. Um caminho contínuo de autoconhecimento, onde o profissional aprende, dia após dia, a ocupar um lugar ético, consciente e responsável diante da dor e da grandeza humana.
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