A culpa é uma velha conhecida das mulheres. Presente nos relacionamentos, nas escolhas profissionais, nos silêncios, nas pausas que elas não se permitem. Mas quando ela se instala na experiência da maternidade, assume uma profundidade quase inominável.
Não estamos falando aqui da culpa cotidiana – a de esquecer uma tarefa, de se atrasar para um compromisso, de dizer algo impensado. A culpa materna tem raízes mais profundas. Ela toca o corpo, a psique e a alma da mulher. É uma culpa que surge por sentir demais, ou por não sentir o que se esperava. Por querer estar presente e, ao mesmo tempo, desejar distância. Por amar e, ainda assim, se perceber cansada, exausta, às vezes, vazia.
A culpa que vem antes dos filhos
Ao contrário do que se pensa, a culpa materna muitas vezes não nasce com os filhos. Ela vem de muito antes – da forma como fomos cuidadas, ou da ausência de cuidado que vivemos. Da história emocional que herdamos de nossas mães, avós, figuras femininas que carregaram sobre os ombros a exigência de perfeição sem escuta, sem afeto, sem nome para as próprias dores.
Muitas mulheres crescem acreditando que amar é se anular. Que cuidar é esquecer de si. Que ser boa é ser invisível. Assim, quando se tornam mães, carregam consigo um roteiro antigo, marcado pela sobrecarga, pela exigência interna e por um silêncio emocional que oprime.
O ideal da mãe perfeita: uma armadilha emocional
A maternidade idealizada, reforçada culturalmente em filmes, redes sociais e discursos românticos, impõe um padrão inalcançável. Espera-se que a mulher seja amorosa, disponível, paciente, presente – o tempo todo. E ela tenta. Tenta com todas as forças ser essa figura ideal. Até que não consegue mais. E é nesse momento que a culpa aparece, implacável.
A culpa diz que ela falhou. Que não é suficiente. Que não merece descanso. Que não deveria desejar espaço, silêncio, desejo, identidade. E, ainda que nada disso seja verdade, ela acredita. Porque o amor que sente é tão grande, que prefere acreditar que o erro está nela do que questionar o modelo que lhe foi imposto.
A culpa que silencia a alma feminina
A culpa, nesse lugar, não apenas dói. Ela paralisa. Ela distorce a percepção de si mesma. Ela cala a alma. Faz com que a mulher perca o contato com seus desejos mais íntimos, com sua intuição, com sua voz interior. Ela continua agindo, funcionando, atendendo – mas, por dentro, está cada vez mais distante de si.
É nesse silêncio que surgem o cansaço extremo, a raiva contida, a sensação de solidão profunda mesmo rodeada de pessoas. Porque não se trata apenas de dar conta. Trata-se de não poder ser quem se é, com verdade.
Culpa precisa ser escutada – não negada
Ao longo do tempo, muitas mulheres aprenderam a reprimir a culpa, tentar eliminá-la, fingir que ela não existe. Mas ela não desaparece assim. Pelo contrário: quanto mais ignorada, mais se entranha. A única forma de transformá-la é pela escuta. Pela coragem de encará-la sem julgamentos. De perguntar: de onde você vem? O que você quer me mostrar?
Escutar a culpa é um ato espiritual. É reconhecer a dor sem se definir por ela. É abrir espaço para reconstruir a própria maternidade – ou a relação com o completo materno – com mais consciência, mais leveza e mais verdade.
Mães no Divã: um espaço de escuta e reconexão
O curso Mães no Divã nasce exatamente desse lugar. Não como fórmula de sucesso ou manual de conduta, mas como um espaço sagrado de escuta. Um percurso simbólico, emocional e espiritual para que cada mulher possa revisitar sua história, compreender suas dores, reconhecer sua verdade – e, a partir disso, se reencontrar.
Se você sente que essa culpa tem falado alto demais dentro de você, talvez esteja na hora de escutá-la com amor. E de transformar o peso que carrega em presença consciente.