Estamos às portas do lançamento do curso Casamento no Divã e, por isso, imersos nesse assunto e conversando muito sobre nosso relacionamento. Temos relembrado momentos importantes e feito releituras de muitas coisas, a partir do novo olhar que adquirimos vivendo o processo do curso.
Por conta disso, me lembrei de uma de nossas primeiras e mais decisivas brigas.
Quando eu falo briga, não pense em discussão acalorada, rompimento ou coisas do tipo. Isso nunca aconteceu com a gente. Nossas “brigas” são momentos de confronto, de posicionamento. Permanecemos respeitosos, mas, nesses casos, eu mantenho um posicionamento mais firme sobre meu ponto de vista ou necessidade e entramos em um impasse que só se resolve quando há um alinhamento. Isso, em geral, leva no máximo dois ou três dias.
Nessa briga, éramos noivos. Eu atendia no meu consultório até as dez da noite. O carro dele estava quebrado e ele estava com o meu carro. Naquele dia, ele foi encontrar um amigo músico para resolver algo de um evento que fariam juntos.
Eu estava exausta e faminta. Fiquei esperando-o chegar por mais de 40 minutos. Minha cabeça parecia uma panela de pressão, de tanta raiva e de tanto argumento ancestral. Ele chegou com o som alto, super de bom humor, tentando minimizar o atraso e a mancada, todo carinhoso.
Entrei no carro, silenciosa, e fomos em direção ao apartamento dele, onde eu dormia algumas vezes. Nesse dia havíamos combinado que eu ficaria lá.
Chegamos à porta do prédio. Não desci do carro, permaneci silenciosa, tentando não manifestar a raiva. Passei para o banco do motorista e disse que ia para casa (eu morava com a minha mãe). Ele tentou fazer um clima de que eu estava exagerando, etc., etc.
“Acho que nós dois precisamos pensar”, eu disse.
Ele respondeu: “O que você quer dizer com isso?”
Eu respondi: “Ou você muda como me trata, ou eu mudo como trato você. Ou você muda as suas prioridades, ou eu mudo as minhas. Estamos desalinhados. Se eu não sou prioridade para você, então vai ser mais sadio para mim que você também não seja minha prioridade.”
Me despedi carinhosamente, manobrei o carro e fui embora.
Ele disse que não dormiu a noite toda. Eu fiquei um pouco tensa, mas dormi com o sentimento de ter feito o que precisava fazer por mim. Tinha estabelecido um limite importante, que nunca mais foi ultrapassado.
De manhã, minha mãe estranhou me ver em casa e me perguntou se nós tínhamos brigado. Eu disse: “Não exatamente, foi apenas uma medida pedagógica.”
Nós somos as responsáveis por como somos tratadas em todos os nossos relacionamentos. Somos nós que deixamos claro nosso valor. Somos nós que nos retiramos quando somos desrespeitadas. Somos nós que não aceitamos migalhas.
Os limites das relações são estabelecidos pelas mulheres, rainhas do mundo subjetivo, das relações, dos domínios do feminino.
Sei que é difícil para uma mulher aprender a sustentar o que sente, aprender a comunicar seus desejos e necessidades e, mais ainda, saber no profundo o seu valor. Mas esse lugar é inegociável.
O caminho para essa posição pode ser lento, mas nunca negligenciado. Ainda que uma mulher não consiga falar claramente sobre todos esses temas, precisa aprender a mostrar que está decepcionada, que esperava mais, que merece mais.
Os olhos de uma mulher são um espelho onde um homem descobre que tipo de homem ele é.
Um beijo,
Dani
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